quarta-feira, março 21, 2007

Fora de controle

Você já se assustou consigo mesmo ao descobrir do que é capaz?
Já se espantou de ver que se é acuado, pode fazer qualquer coisa?
Que quando tocam no nome de um filho, você se transtorna?

Já parou pra pensar no que é capaz de se transformar?

Enganar, mentir, se disfarçar.
Descobrir os piores segredos
E, sim, não ter medo de usá-los para fazer alguém parar de te intimidar?

Criar um personagem, entrar sorrateiro, conversar,
Dar corda e ver o circo se incendiar a sua volta?
Apenas pelo mórbido prazer de saber que, o poder troca de mãos muito rápido?

Já sentiu o sabor doce do veneno escorrendo por entre os teus lábios?
Já desejou estraçalhar um corpo inteiro com suas próprias unhas?
Já sentiu o gosto suave de possuir o poder de fazer isso?
E, melhor, já conseguiu respirar, sorrir e guardar tudo isso pra si?

Já teve o prazer de não revidar?
De guardar todos as descobertas
Todos os aliados
Para jogar com eles no momento certo?

Já conseguiu rir por perceber o quanto seria fácil?
Que precisaria apenas colocar tudo na palma de uma das mãos e soprar sobre a pessoa?
Você sentiria prazer em vê-la cair?
Em vê-la balbuciar, palavras desconexas, paralisada pela surpresa?
Você conseguiria sorrir largamente,
Dar as costas e sair andando?

Perguntei-me tudo isso hoje, no momento em que o veneno escorria lentamente pelos meus lábios.
Quando percebi a sutileza do momento.
Quando me satisfazia, plena, com gosto, sorrindo.
Enrodilhei meu corpo escamoso de naja.
Deliciei-me com a beleza da maldade em minhas mãos.

Estalei os dedos, coloquei em uma caixinha e reservei para um momento em que este recurso seja necessário.
Decidi aguardar, tudo se acalmou.
Então, coloquei minha caixa, venenosa, perigosa, traiçoeira, em baixo de meu travesseiro e dormi sobre ela.

Espantei-me por me ver tão ardilosa.
Aquela satisfação intensa me causou certa repulsa.
Descobrir que posso ser tão maldosa quanto, ou muito pior, causou alguma mudança interna.

Parece que ultrapassei uma barreira muito obscura.
Tive a impressão de ouvir minha professora gargalhar e colocar uma estrelinha em meu boletim.
Sorri, mas desconhecia este prazer, me causou certa náusea.
Mas para isso existe remédio.
Na próxima oportunidade, vomitarei sobre o acusador.

Assistirei a lenta morte
E tal qual a lesma que recebe sal,
Ele derreterá diante de meus olhos verdes malignos.

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