
Estou aqui para falar de uma mulher diferente.
Esta noite passei meu horário de intervalo tentando me reconhecer, alguém me perguntou se as pessoas notam que eu mudei, ou o momento que estou vivendo e realmente parei para pensar nisso.
Várias pessoas me perguntam: Que está acontecendo, que brilho este?
Diferentes pessoas, colegas, conhecidos, amigos, parentes.
Isso me fez analisar as mulheres que eu fui, que eu sou.
Mas não vou contar tudo isso agora, cheguei a ensaiar mas lotaram-se 3 páginas em poucos minutos e coisas muito longas tornam-se cansativas, então vamos pular para esta nova pessoa.
Ontem quando eu lixava as unhas, minha colega mais chegada disse assim:
- Trabalho contigo há 3 anos e só te vejo fazer isso no ultimo mês.
Esta afirmação é que me colocou a pensar mais.
É verdade, faz exatamente 4 anos que eu havia pintado as unhas pela última vez e quando fiz isso, faziam 2 anos que eu não pintava.
Foi um dia que enlouqueci e resolvi cortar o cabelo na altura do ombro e pintei as unhas de preto, depois de 2 anos sem fazer nada disso.
Então volta e meia eu fazia umas luzes no cabelo de tanto que a minha mãe enchia meu saco e ás vezes até pagava.
Foram mais 4 anos sem pintar as unhas, eu pegava um cortador e deixava-as curtas e sem esmalte, não lixava, apenas esfregava nos dentes para sair a aspereza.
Não me maquiava, comprava alguns batons das colegas, e dava tanta importância que chegava a comprar da mesma cor, ficava com dois iguais e eles estão quase intocados pois comprava pelo velho hábito.
Roupas?
Fala sério, tinha uma calça jeans que deixara de servir, uma calça preta e as brancas de trabalhar.
No final do ano comprava uma blusa para usar no natal, tem duas regatas de tia, estampadas, onde cabe 3 eu.
Calçados: 1 tênis preto, uns chinelos e o sapato branco.
Anéis pretos de estarem guardados.
Quando fiz 30 anos resolvi dar uma de louca e fazer 2 tatuagens, achei que isso me mudaria de alguma forma, mas não foi o que aconteceu, tanto que eu nem conseguia saber de qual lado das costas estava a primeira.
Um dia, muito depois que assisti ao filme “O Senhor dos Anéis”, encontrei uma correntinha com o pingente da Arwen, achei tão deslumbrante que comprei, usei umas 2 vezes.
Enfim, isso ilustra que a mulher que havia em mim estava morta.
Ano passado ela deu um sinal de vida e resolveu perder peso, foi um passo, estava evoluindo muito bem até ter outros problemas pessoais e começar com o conflito de saber que eu estava onde não queria, com quem não queria e era muito infeliz, até aqui nem isso eu conseguia perceber, depois problemas de saúde e tudo estava uma merda.
Quando eu começava a me erguer, tudo voltava a desabar, havia o conflito de querer por fim a um relacionamento que jamais deveria ter acontecido e esta parte eu consegui fazer.
Iniciou-se o tempo de abrir, sozinha, todas as minhas feridas.
Tentar me curar de meus próprios males.
Hoje suspeito que eles afloraram de tal forma que me derrubaram fisicamente.
Era tão duro enfrenta-los emocionalmente, que meu corpo todo resolveu entrar em colapso.
Mais uma etapa ultrapassada, nem todas as feridas cicatrizaram, mas já consigo mostrar meu rosto sem espantar as pessoas.
De repente comecei a renascer, tive a idéia de arrumar meu cabelo sem que ninguém me obrigasse e marquei uma hora em um salão de beleza.
Foi importante perceber que outras pessoas notavam algo que pra mim não existia, o menino que cortou e me fez as luzes, se empolgou tanto com meu cabelo que me fez um penteado de graça.
O outro veio modelar minhas sobrancelhas, se empolgou também com meus olhos, falava assim:
Nossa, que olho, para quieta que eu vou te pintar, tu não pode sair daqui assim, vai sair poderosa.
Pintou meu olho e falou: A não, vamos passar uma base...nossa menina, espera aí que eu vou colocar uma sombra... ai que lindo..para, vou escolher batom.
Me cobraram apenas as luzes e a modelagem das sobrancelhas, penteado e maquiagem grátis.
Quando fui pra casa, passei por dentro do pátio do hospital e muita gente virou a cabeça pra me olhar.
Cheguei e fui na casa da minha mãe, como havia demorado mais que o esperado, minha filha e o namorado estavam lá me esperando.
Toquei a campainha e o menino abriu a porta, abriu a boca e fechou a porta na minha cara.
- Amorrrr, vó, vem cá ver quem é esta mulher.
Abriu de novo a porta e falou, Bah!
Entrei e a minha filha disse: Mãeeeeeeee que houve contigo????
E a minha mãe: Ai que linda, puta merda, assim que tem que andar, animal.
Cheguei em casa, tirei uma foto e coloquei no orkut, já retirei claro, mas ficou lá um bom tempo.
Em seguida peguei um sabonete, lavei o rosto e desmanchei o cabelo.
Pronto, acabou-se.
De repente surgiu alguém que me fez olhar pra trás, que me mostrou onde eu havia parado e me obrigou a ver porque. Na verdade eu sabia tudo isso, mas reconhecer fez toda a diferença.
Esta pessoa me fez dizer todos os dias:
"Perdôo todo o mal que eu me fiz"
"Perdoa todo o mal que te fiz"
“Perdôo todo o mal que me fizeste”
E o renascimento se deu!
Não estou me achando a ultima bolacha do pacote não, muito pelo contrário, mas algumas coisas começaram a mudar.
Ganhei prazer em me redescobrir como mulher, em todos os sentidos.
Tenho urgência em retomar meu corpo, já tão danificado.
Recuperar minha mente, que estava tão perturbada e perdida.
Sentir tantas coisas boas, simplesmente fizeram com que eu me aceitasse melhor, que eu tomasse os meus erros como lições e aprendizado, que possa ser esta nova pessoa sem anular o meu lado feminino.
Ser uma mulher que aceita a vida de uma forma muito mais tranqüila, que assume seus desejos, seus amores e dores, que conviva consigo mesma com mais naturalidade.
Que aceite sentir, que se aceite e aceite as pessoas como elas são.
Que não distorça formas de amar em formas de se torturar e torturar o outro.
Que finalmente atinja o tão sonhado equilíbrio recentemente tatuado.
Bom falar também que esta tatuagem tem muitos significados para esta nova mulher.
Representa diversas coisas que estarão aqui pra sempre.
Esta mulher volta a se sentir humana, bonita, alegre, brilhante, feliz.
Ainda possui muitos conflitos, mas eles já não são insuportáveis, já não causam dores demasiado fortes para que não possam ser encaradas de frente.
Existe um responsável por isso, e só tenho a agradecer.
Não sei como poderei retribuir o tanto que recebo, é muito, é importante, é como dar oxigênio a quem não conseguia respirar.
Vou encerrar aqui, poderia escrever mais, mas seria um pouco além do que já estou pronta a mostrar.
O sono já toma conta, preciso fazer xixi, preciso dormir, não consigo mais me manter aqui, então me vou, conheço meu sono, vou morrer por umas 3 horas, então era isso por enquanto.
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